Entre as várias definições de "orgulho", hoje a mais apropriada é o sentimento de respeito que alguém possui por si mesmo, inseparável da consciência coletiva que leva a ações em defesa de direitos e em repúdio ao capacitismo de uma sociedade que se apressa em formar opiniões limitadas (e limitantes) sem embasamento.
"Orgulho Autista" é a lucidez a respeito da seriedade de uma causa crescente. É saber que somos autistas agentes, e não passivos. É dizer que temos voz, independente de sermos verbais ou não-verbais. É ser consciente de que a neurodiversidade é uma realidade cada vez mais evidente, reconhecida pela Ciência e pela Lei e que, portanto, é conhecimento obrigatório a todos os cidadãos e instituições. É informar que, sim, nós temos empatia, olhamos nos olhos, abraçamos e que estas características não devem ser banalizadas em frases simplistas que conduzem a estereótipos sem nexo. É lembrar que somos muitas mulheres adultas com diagnóstico tardio ou não-diagnosticadas pela falta de informação, incompetência, ausência de ética e inacessibilidade ao atendimento de qualidade.
Falar em "Orgulho Autista" é advertir que não somos peças de quebra-cabeças, tampouco monocromáticos. Somos infinitos na neurodiversidade e em outras possibilidades de pluralidade. Somos autistas, mas também somos crianças, adolescentes, adultos, idosos, superdotados, hiperativos, com ou sem déficit cognitivo, ansiosos, depressivos, verbais, não-verbais, com ou sem atraso de fala, com ou sem cuidadores, mulheres, homens, cis, trans, homossexuais, heterossexuais, bissexuais, pansexuais, assexuais, negros, brancos, orientais, gordos, magros, cadeirantes, cegos, surdos, grávidas, mães, pais, avós, bisavós, estudantes, professores, empregadas domésticas, faxineiros, garis, médicos, enfermeiros, psicólogos, balconistas, estoquistas, atores (com ou sem Oscar), ativistas ambientais, desenhistas, cantores, musicistas, dançarinos, artistas plásticos, cientistas, engenheiros, advogados, pedreiros, motoristas, jornalistas, escritores, filósofos, antropólogos, donas e donos de casa, contadores, matemáticos, motoboys, auxiliares de escritório, veterinários, desempregados, de baixa renda, classe média, bilionários, sonhadores e, principalmente, cidadãs e cidadãos.
Somos plurais em nossa singularidade.
Carmem Toledo
(Mulher, autista, superdotada, filósofa, escritora, artista multimídia e infinita em minhas possibilidades).