quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Derrubando mitos sobre Autismo, Superdotação e outros temas

Nesta postagem, decidi reunir algumas perguntas e mitos que todos nós já ouvimos ou lemos nas redes sociais. Talvez, você reconheça algumas delas como dúvidas que também já passaram por sua mente, em algum momento, mas você deixou de perguntar por vergonha, falta de oportunidade ou por achar que já sabia a resposta (calma... todos nós estamos sujeitos a isso). Leia o que escrevi abaixo e acrescente informações necessárias à sua vida!
Antes que esta página fosse criada, houve muita pesquisa e leitura sobre os temas abordados. Se você tiver alguma dúvida específica sobre seu filho, neto, sobrinho ou aluno, procure um PROFISSIONAL DA ÁREA que corresponda melhor à sua situação. Não use a internet para procurar ou perguntar sobre características, medicamentos, tratamentos etc. Evite pesquisar sobre estas e outras condições diretamente no Google, pois há muitas informações equivocadas e até mesmo capacitistas na internet. Busque em fontes seguras! Por falar nisso, consulte algumas listas com ótimas fontes de pesquisa no final desta página!

Carmem Toledo
Criadora e responsável pelo projeto Voz Neurodiversa (http://vozneurodiversa.blogspot.com)



Mitos e verdades:



Autismo


Mito: "Mas você não parece autista!"
Resposta: E como seria "parecer" autista? Autista não tem cara, nem jeito... O Transtorno do Espectro Autista se manifesta de maneiras diferentes em cada pessoa, por isso, não há um autista exatamente igual ao outro. Há autistas com maior e menor comprometimento, com e sem deficiência intelectual, verbais e não-verbais. 
Segundo o DSM-V (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - 5ª edição), o espectro autista pode ser classificado dentro de três níveis de suporte, de acordo com as dificuldades manifestadas:

Nível I: O autista tem algumas dificuldades para fazer e manter amizades e apresenta certas dificuldades na comunicação (como respostas que às vezes são inapropriadas e dificuldade em compreender ironias). Também tem hiperfocos (interesses intensos e restritos por determinados assuntos). Não tem deficiência intelectual (possui inteligência na média ou acima) e nem sempre apresenta atraso na fala durante o desenvolvimento. Necessita de um pouco de suporte e geralmente consegue ter relacionamentos (amigos, namoro etc.), estudar e conquistar a independência. 

Nível II: Dificuldades marcantes na conversação, interação limitada, hiperfocos tão intensos, que impedem que o indivíduo troque de atividade e movimentos repetitivos visíveis e frequentes. Suas expressões verbais e faciais são mais limitadas. Necessita de um maior suporte, inclusive na aprendizagem. 

Nível III: Interação mínima. Muitos não falam ou têm expressão verbal muito limitada. Os comportamentos repetitivos interferem bastante na vida deste indivíduo e ele tem extrema aflição frente a mudanças. Necessita de suporte muito substancial, inclusive para aprender habilidades do cotidiano (tomar banho, vestir-se, escovar os dentes, comer, dormir etc.).  

É importante ressaltar que são níveis de suporte, e não de autismo! Não existe uma pessoa "mais autista" ou "menos autista"! Além disso, mesmo dentro de um mesmo nível, há muitas diferenças entre os indivíduos e cada um necessita de mais ou menos suporte em determinadas áreas, dependendo de seu caso específico. 

Segundo o CID 11 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde), o diagnóstico de autismo é feito de acordo com a seguinte classificação:

6A02 – Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)
6A02.0 – Transtorno do Espectro do Autismo sem deficiência intelectual (DI) e com comprometimento leve ou ausente da linguagem funcional;
6A02.1 – Transtorno do Espectro do Autismo com deficiência intelectual (DI) e com comprometimento leve ou ausente da linguagem funcional;
6A02.2 – Transtorno do Espectro do Autismo sem deficiência intelectual (DI) e com linguagem funcional prejudicada;
6A02.3 – Transtorno do Espectro do Autismo com deficiência intelectual (DI) e com linguagem funcional prejudicada;
6A02.4 – Transtorno do Espectro do Autismo sem deficiência intelectual (DI) e com ausência de linguagem funcional;
6A02.5 – Transtorno do Espectro do Autismo com deficiência intelectual (DI) e com ausência de linguagem funcional;
6A02.Y – Outro Transtorno do Espectro do Autismo especificado;
6A02.Z – Transtorno do Espectro do Autismo, não especificado.
LD90.4 – Síndrome de Rett;
 
Recomendo que assistam a este excelente e esclarecedor vídeo de William Chimura sobre tal assunto: https://youtu.be/O86Y1xdVFuY 


Mito relacionado: "Ah! Ainda bem que é leve!"
Resposta: É um equívoco atribuir os adjetivos "leve", "moderado" e "severo" ao autismo, embora muita gente faça isso (inclusive profissionais). Sendo assim, é um erro grave acreditar que um autista que necessite de menos suporte não precisa de ajuda para nada e tem a obrigação de apenas "se esforçar mais um pouco", da mesma forma que é errado crer que um autista que precisa de suporte mais substancial é totalmente incapaz. Além disso, ao dizer "ainda bem", você está sendo capacitista* em relação às outras manifestações do espectro. 
* Capacitismo é a manifestação de preconceito, intencional ou não, sobre uma pessoa com deficiência. Qualquer fala ou comportamento que diminua ou infantilize um indivíduo que esteja nesta condição, ainda que seja com "a melhor das intenções", é capacitista e, portanto, não deve ser reproduzida.



Mito: "Vacinas causam autismo."
Resposta: N Ã O !!! Vacinas não causam autismo! Tudo que você ler ou ouvir que diga o contrário disso é boato. Para entender melhor (e inclusive conhecer a origem desse mito), leia os seguintes artigos, que são confiáveis e extremamente esclarecedores:
Fundação Oswaldo Cruz: "Vacinas causam autismo? Veja os resultados do mais amplo estudo sobre o tema" - https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/1585-vacinas-causam-autismo-veja-os-resultados-do-mais-amplo-estudo-sobre-o-tema
El País Brasil: "Vacinas não causam autismo: o mais amplo estudo do tema sai na Dinamarca" - https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/05/ciencia/1551783023_370147.html
Drauzio Varella: "Alumínio presente em vacinas causa autismo?"https://drauziovarella.uol.com.br/checagens/aluminio-presente-em-vacinas-causa-autismo-checagem/
BBC Brasil: "A história que deu origem ao mito da ligação entre vacinas e autismo"https://www.bbc.com/portuguese/geral-40663622



Mito: "Telas de tablets e de celulares causam autismo."
Resposta: N Ã O !!! É impossível telas causarem autismo, uma vez que se trata de uma condição do neurodesenvolvimento que faz parte da constituição genética do indivíduo. Considero extremamente grave o fato de já ter presenciado profissionais propagando esta ideia equivocada sobre as "telas", sem nenhum fundamento científico. Isso fere, inclusive, a ética e deveria ser seriamente analisado e julgado pelos respectivos conselhos profissionais.



Mito: "Autismo tem cura" ou "Autismo pode ser revertido" ou "É possível sair do espectro".
Resposta: N Ã O ! ! ! Não há como reverter, curar ou sair de uma condição genética (portanto, não é doença). Ainda que um autista faça várias terapias e tenha os melhores acompanhamentos profissionais, por mais que ele aprenda a lidar com várias situações e melhore, por exemplo, sua comunicação e a socialização, ele sempre será autista. Cuidado com falsas promessas de medicamentos e intervenções alternativas! Há muita gente que deseja lucrar com isso! Não dê MMS ("Mineral Miracle Solution" - "Solução Mineral Milagrosa", que de milagrosa não tem nada) ao seu filho! Esta substância não é nada mais que um alvejante industrial composto por dióxido de cloro que, no máximo, vai lhe causar sérios problemas de saúde (inclusive, é proibida pela Anvisa desde 2018)!
Sobre isso, leia estes artigos confiáveis:
Veja: "Remédio falso para autismo e outras doenças é retirado do mercado"https://saude.abril.com.br/medicina/remedio-falso-para-autismo-e-outras-doencas-e-retirado-do-mercado/
Viva Bem - UOL: "Autismo: As descobertas recentes que ajudam a derrubar mitos sobre o transtorno"https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/bbc/2020/02/16/autismo-as-descobertas-recentes-que-ajudam-a-derrubar-mitos-sobre-o-transtorno.htm



Dúvida: "Qual é o remédio para o autismo?"
Resposta: Nenhum. Não existe um medicamento específico para o autismo em si, pois não se trata de uma doença. Um autista pode precisar de medicamentos devido às comorbidades (doenças e distúrbios que ele pode ter, como depressão, insônia, ansiedade, síndrome do pânico etc.).



Mito: "Autistas não têm empatia."
Resposta: Sim, autistas têm empatia. Um autista pode variar entre nenhuma reação empática, pouca ou até exacerbada demonstração de empatia. Pode ser, inclusive, que ele se afete muito mais que o esperado por causa de algo que esteja se passando com alguém que ele ama. Eu costumo ter muita empatia, até mesmo por pessoas que não conheço, mas ao mesmo tempo que já me desesperei por coisas que para os outros não representavam tanto, também passei por situações nas quais um observador pode ter pensado que eu não estava nem um pouco afetada, pois não demonstrei reação alguma, enquanto os demais à minha volta estavam visivelmente emocionados. Além disso, também há de se considerar que alguns autistas não sabem demonstrar empatia (ou não o fazem exatamente da forma que as outras pessoas esperam). Eu, particularmente, conheço uma quantidade bem maior de neurotípicos* que parecem não ter empatia alguma.

* Neurotípica é aquela pessoa que está dentro dos padrões de desenvolvimento neurológico, ou seja, que não é autista.



Mito: "Dizem que o filho da Maria é autista, mas eu acho que foi a criação que o fez ficar daquele jeito. Ele é mimado! A culpa é da mãe!"
Resposta: Não! Autismo é uma síndrome genética que nada tem a ver com a criação, com a educação recebida ou qualquer coisa que a mãe tenha feito ou deixado de fazer. 
Erro relacionado: "Ai... Essa criança jogada no chão, fazendo birra e gritando sem parar... Se fosse meu filho, queria ver se faria isso!"
Resposta: Se fosse seu filho, faria exatamente igual! Uma criança neurotípica (que não é autista), quando quer fazer birra, faz de tudo para chamar a atenção da mãe ou do adulto que estiver com ela. A criança autista não faz isso para atrair olhares para si. O que ela faz não é "birra", mas uma maneira incontrolável de colocar para fora uma angústia enorme de quem está recebendo muitas informações ao mesmo tempo, sem que seu cérebro consiga lidar com todas elas. Para você, um shopping, um supermercado ou um terminal rodoviário são lugares comuns, porque o seu cérebro consegue separar cada dado recebido (cheiros diferentes, vozes, passos, embalagem de bala sendo aberta etc.), dando atenção somente ao que importa. Para o autista, esses estímulos chegam todos ao mesmo tempo e sua atenção não consegue se concentrar em uma coisa por vez. Isso faz com que ele se sinta muito mal, principalmente se for um autista que precisa de maior suporte. 
E antes de dizer que o filho do outro é mimado, olhe para a educação baseada em preconceitos que você está dando a seus filhos e comece a refletir sobre seu hábito de julgar a vida alheia, falando sobre assuntos que você desconhece.



Mito: "Messi, Einstein e Isaac Newton são exemplos de autistas".
Resposta: Não. Há alguns anos, a assessoria de Messi negou que ele seja autista e apesar disso, muitas páginas insistem em propagar esta informação falsa (pois é uma ideia atraente e, portanto, atrai engajamento nas redes sociais). Quanto a Einstein e Newton, como são duas personalidades que já faleceram há muito tempo e na época em que eles viveram o autismo era desconhecido, não podemos saber se eles eram autistas ou não. 
Mais uma observação importantíssima: Cuidado com "exemplos", principalmente os de "superação". Não repasse (aliás, nem pare para ver) essas informações equivocadas, pois elas costumam ser extremamente capacitistas, sem fundamento e apenas têm o objetivo de atrair cliques e compartilhamentos nas redes sociais. E se você não domina um tema, não faça buscas indiscriminadas no Google, pois existem muitas informações equivocadas e capacitistas na internet. Busque em fontes confiáveis, atestadas por profissionais que estudaram o assunto e pessoas que vivenciam aquela realidade. Aqui no blog da Voz Neurodiversa, reuni várias fontes confiáveis a quem quiser saber mais sobre este e outros temas: 
Indicações bibliográficas: 
Fontes de pesquisa: 
Você quer falar sobre famosos que realmente são autistas? 
Primeiro: Não tenha a intenção de dar "exemplos" a ninguém. 
Segundo: Se o seu objetivo for puramente informativo e com a intenção de derrubar estigmas, fale sobre pessoas que deram um depoimento pessoal sobre sua condição (e antes disso, veja se a fonte é segura). 
Quer uma pequena lista de autistas que você pode citar? Aqui está:
- Leilah Moreno (cantora brasileira)
- Temple Grandin (zootecnista e professora universitária)
- Daryl Hannah (atriz)
- Anthony Hopkins (ator)
- Courtney Love (atriz e cantora)
- Susan Boyle (cantora)
- Greta Thunberg (ativista ambiental)
- Dan Harmon (escritor, produtor e ator)



Mito: "Os autistas são puros, ingênuos... Verdadeiros anjos azuis!"
Resposta: As dificuldades de comunicação presentes no autismo podem fazer com que estes indivíduos demorem mais a entender ironias, frases de duplo sentido, piadas ou até perceber quando alguém quer lhes fazer mal. Entretanto, isso não é sinônimo de "pureza" ou "ingenuidade", e sim um déficit comunicativo. 
Eu, por exemplo, apesar de me comunicar bem, posso falhar às vezes na compreensão não-verbal (como perceber, por exemplo, quando alguém faz uma microexpressão facial que indica desinteresse no que estou dizendo), na identificação de ironias de terceiros (principalmente no meio de uma conversa falada e informal, a não ser que meu interlocutor me dê uma pista bastante clara de que ele pretende ser irônico naquele momento), ou na percepção de que alguém tem interesse amoroso ou sexual por mim (sou muito vagarosa para notar pistas de flertes). Também já fui ludibriada várias vezes por pessoas em quem confiava.
Mesmo assim, sei usar ironias em meus textos (pois sou escritora) e sei contar piadas, pois, nestes casos, estou no domínio da situação! Além disso, tenho uma segunda condição: a Superdotação Intelectual que, no meu caso, inclui um QI verbal muito elevado - algo que me auxilia na capacidade de leitura, interpretação e produção de textos. Um outro detalhe importante sobre mim é que, durante a pré-adolescência, tive alguns hiperfocos que me ajudaram muito na compreensão de figuras de linguagem: Língua Portuguesa, Mamonas Assassinas e Sai de Baixo. 
Ainda assim, minha via de compreensão é diferente de um neurotípico, pois preciso raciocinar sobre uma frase como "Fulano está empurrando o projeto com a barriga" (e sempre me divirto ao imaginar a cena no sentido literal da frase). Mas... Não, eu não sou um "Anjo Azul" (com todo respeito por esses seres celestiais). 
Além disso, a cor azul costuma ser relacionada ao autismo devido a alguns dados (que hoje são questionados pelos pesquisadores) segundo os quais haveria uma proporção maior de homens com autismo. Sendo assim, também é uma associação da cor azul ao sexo masculino... No entanto, sabe-se que há um subdiagnóstico de mulheres no espectro, ou seja, muitas meninas se tornam adultas sem que saibam que são autistas (principalmente aquelas que necessitam de menos suporte, como eu). Isso ocorre, principalmente, devido a dois fatores: as manifestações do autismo têm algumas diferenças no sexo feminino e as mulheres aprendem, desde cedo (por questões culturais e, principalmente, pressão social), a camuflar as características para conseguirem conviver melhor em sociedade. Isso dificulta o diagnóstico (eu que o diga, pois recebi o laudo com quase 36 anos de idade).
Portanto, a tendência é que esta cor pare de ser utilizada para representar o autismo. 
Uma dica: Se quiser representar a neurodiversidade, ao invés do azul, use as cores do arco-íris com o sinal do infinito (veja um exemplo aqui: https://www.gratispng.com/png-omb4yx/), pois representa a diversidade de expressões do espectro autista e o mais importante: foi criado por autistas. 
Saiba mais sobre isso, lendo estas matérias:
Revista Cláudia: "Cresce número de mulheres diagnosticadas com autismo depois dos 30 anos"https://claudia.abril.com.br/saude/autismo-mulheres-diagnostico/
Progene - Programa Genoma e Neurodesenvolvimento - Instituto de Biologia - USP: "Autismo em mulheres: Os custos da camuflagem do autismo" (por Francine Russo (spectrumnews.org) traduzido e adaptado por Progene)- https://progene.ib.usp.br/autismo-em-mulheres-os-custos-da-camuflagem-do-autismo/
Mundo Autista - Sophia Mendonça: "Autismo no feminino"https://omundoautista.com.br/autismo-no-feminino/



Mito: "Autistas nunca olham nos olhos e não são expressivos".
Resposta: Cuidado com as palavras "nunca" e "sempre"! Muitos autistas têm dificuldade de fazer contato visual, mas eles também olham nos olhos. Da mesma forma, há autistas que têm dificuldades para expressar facialmente as emoções ou o fazem de maneira inadequada (por exemplo: rindo em momento errado). No entanto, muitos autistas são bastante expressivos... Em uma das questões acima, inclusive, citei os atores Anthony Hopkins e Daryl Hannah! E eu também sou um exemplo disso, pois até já cursei teatro e dança (atividades que exigem uma boa expressão facial). As pessoas sempre dizem que tenho muitas expressões faciais e que elas são muito intensas. Por outro lado, já me disseram que, às vezes, estou sorrindo ou fazendo "cara de brava" sem motivo (e eu nunca percebo). 



Mito: "Todos os autistas têm atraso na fala durante o desenvolvimento."
Resposta: Não. Nem sempre existe atraso no desenvolvimento da fala, em especial naqueles que foram identificados com a antiga Síndrome de Asperger (cujo termo não é mais utilizado). Entretanto, mesmo sem atraso, a fala do autista pode apresentar algumas peculiaridades desde cedo, como ecolalia (repetição de palavras e frases de maneira automática, sem um propósito), vocabulário muito acima da média ou uma maneira de falar que pode ser monótona ou parecer "pedante" (segundo o julgamento de algumas pessoas). 



Mito: "Todos os autistas são superdotados."
Resposta: Não! Existem variações de inteligência no autismo. Muitos autistas são superdotados, mas não é uma regra. Quando a mesma pessoa possui o diagnóstico de autismo e é identificada como alto habilidosa/superdotada, trata-se de um caso de dupla excepcionalidade (eu estou neste caso, pois sou autista e superdotada). Mas cuidado com generalizações! O autismo não está associado, necessariamente, à superdotação, tampouco à deficiência intelectual. 

Sobre Dupla Excepcionalidade, leia esta postagem: 

Sobre Autismo, veja as referências bibliográficas (livros, teses, dissertações e artigos acadêmicos) que selecionei e reuni nesta postagem:
http://vozneurodiversa.blogspot.com/2015/02/autismo.html






Altas Habilidades/Superdotação


Mito: "Ser ou ter um filho superdotado é sempre uma maravilha... uma bênção de Deus!"
Resposta: Não. Qualquer pessoa pode ter orgulho de si mesma e quaisquer pais ou responsáveis podem ser extremamente felizes com seus filhos, mas há um mito em torno do superdotado, como se ele fosse somente fonte de alegrias e orgulho para a família. Como qualquer outra pessoa, ele encontrará dificuldades no caminho, viverá momentos bons e ruins e terá de superar muitos obstáculos - que não são poucos para a pessoa com altas habilidades/superdotação. É muito frequente que ele se sinta deslocado, diferente dos demais, até mesmo sem saber exatamente o porquê. Vários superdotados sofrem bullying (não somente de colegas, mas também de professores despreparados e sem ética) e por serem mais sensíveis que a média, geralmente, carregam mágoas e traumas para a vida adulta. Isso pode se converter em fobias e transtornos que precisam ser tratados por um profissional. Muitos também têm uma maior tendência à ansiedade e à depressão. É claro que há várias exceções e existem superdotados que se dão extremamente bem com os colegas e nunca passaram por nada disso, mas não podemos nos esquecer de que vivemos em uma sociedade em que todo aquele que é considerado diferente é excluído e desrespeitado, infelizmente.


Mito: "Os superdotados sabem tudo, não erram nada e só tiram notas excelentes!"
Resposta: Não! Os superdotados ignoram muitas coisas, erram muito e podem tirar muitas notas baixas. O desempenho deles não é excepcional em todos os aspectos e pode haver muitos assuntos nos quais eles até possuem dificuldades.
Segundo o psicólogo e professor norte-americano Howard Gardner, há vários tipos de inteligência, que todos possuem (superdotados ou não): linguística (leitura, escrita, idiomas), lógico-matemática (cálculo, dedução), físico-cinestésica (coordenação motora fina e grossa), espacial (localização e objetos concretos), inter e intrapessoal (sociabilidade, comunicação), musical (instrumentos musicais, noções de tom, melodia, ritmo), natural (ciências, biologia) e existencial (filosofia). Geralmente, o superdotado possui altas habilidades em uma ou mais dessas áreas, mas não necessariamente em todas. Há também aqueles que podem necessitar de aceleração escolar, chegando a pular algumas séries, mas mesmo estes estão sujeitos a erros e podem tirar notas baixas por dificuldades de aprendizagem, por falta de interesse no assunto ou porque se sentem desmotivados por alguma razão. Há, inclusive, casos de repetência e abandono escolar.
De acordo com o pesquisador norte-americano Joseph Renzulli, existe também a superdotação produtivo-criativa, que engloba a expressão artística, o desenvolvimento de ideias e a investigação em torno de algo concreto. Superdotados produtivo-criativos nem sempre apresentam bom rendimento; sua produção pode ter altos e baixos. 

Mito relacionado: "Superdotados não precisam de ajuda para nada!"
Resposta: Não é verdade! Superdotados precisam de muita ajuda, apoio, orientação e acompanhamento psicológico. Esta é uma condição chamada Altas Habilidades/Superdotação, que é protegida pela Lei 12.796, de 4 de abril de 2013, referente à educação especial (Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei 9394/96 com modificações no Art. 58 e seguintes) e pela 
Lei 13.234/2015. O alto habilidoso/superdotado deve receber atendimento educacional especializado, tendo acesso a salas de recursos, aceleração escolar (quando necessário e dependendo de cada caso) e aulas mais adiantadas em sua(s) área(s) de interesse. Além disso, superdotados com problemas emocionais são mais comuns do que se imagina, uma vez que apresentam supersensibilidade (magoam-se e irritam-se com facilidade). 

Leia também esta postagem sobre meu caso, que também envolve Altas Habilidades/Superdotação: 

Sobre Altas Habilidades/Superdotação, veja as referências bibliográficas (livros, teses, dissertações e artigos acadêmicos) que selecionei e reuni nesta postagem:






Síndrome de Down


Mito: "Aquela criança é doente; tem Síndrome de Down."
Resposta: Não! Síndrome de Down não é doença! Doença é tudo aquilo que abala a saúde de uma pessoa. Uma pessoa que pegou gripe está doente, por exemplo.
Síndrome de Down é uma alteração genética que faz com que a pessoa nasça com um cromossomo 21 a mais (trissomia do 21). Esse material adicional está presente em todas as suas células, por isso, atribui várias características específicas ao indivíduo, como olhos amendoados, baixa estatura, única prega nas palmas das mãos (prega simiesca), baixa implantação das orelhas, hipotonia muscular e deficiência intelectual. Portanto, o cromossomo a mais o constitui como ser. Isso quer dizer que a síndrome não pode ser revertida e muito menos "curada".


Erro: "A Terezinha teve um filho mongol."
Resposta: Se você ouvir uma frase parecida com esta, a criança só pode ter nascido na Mongólia, pois é a única interpretação correta possível. Entretanto, provavelmente, a pessoa esteja querendo dizer, equivocadamente, que o bebê tem Síndrome de Down. A palavra "mongol" começou a ser usada pelo médico John Langdon Down no século XIX, quando este passou a perceber semelhanças físicas entre determinados pacientes com deficiência intelectual, principalmente, olhos amendoados e estatura baixa. Ele escreveu algo parecido com isto: "Um grande número de idiotas congênitos parecem típicos mongóis". Na verdade, Down concluíra, de maneira extremamente racista e capacitista, que aquelas crianças haviam regredido a um estado mais "primitivo" da evolução, que seria o dos mongóis. Somente na década de 60 a Mongólia conseguiu, através de uma reclamação à ONU, fazer com que esse termo fosse abolido e a trissomia do 21 passasse a ser chamada, oficialmente, de Síndrome de Down. Por isso, não reproduza termos como este e outros usados acima!

Sobre Síndrome de Down, veja as indicações bibliográficas (livros, teses, dissertações e artigos acadêmicos) que selecionei e reuni nesta postagem:






Deficiência intelectual


Mito: "Crianças com deficiência intelectual atrapalham a aula na escola regular".
Resposta: Não! Elas apenas podem necessitar de atenção especial e material adaptado. Partindo-se do princípio que todos convivem em sociedade e que toda professora deve estar preparada para ficar atenta a qualquer aluno, em vários momentos e circunstâncias diferentes, a presença de uma criança com dificuldades de aprendizado não prejudica em nada o desempenho de seu filho. Caso a professora não esteja preparada, é uma ótima oportunidade para que ela desenvolva essa competência e uma experiência maravilhosa para que as demais crianças aprendam a conviver com as diferenças e, portanto, a lidar com a sociedade, que cobrará isso delas no futuro. 

Sobre este e outros temas, veja as indicações bibliográficas (livros, teses, dissertações e artigos acadêmicos) que selecionei e reuni nesta postagem:






Deficiência auditiva


Mito: "Os surdos só podem estudar em escolas especiais, para que possam acompanhar o conteúdo das aulas."
Resposta: Não! Eles têm o direito de frequentar a escola regular e não é permitido recusar sua matrícula.Todos os professores são obrigados a conhecer a Língua Brasileira de Sinais, desde 2005. Todos os cursos que formam professores e fonoaudiólogos, em nível médio e superior, oferecem esta disciplina.


Sobre este tema, recomendo os seguintes livros:

SACKS, Oliver. Vendo Vozes: Uma viagem ao mundo dos surdos. Trad. de Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

SOLOMON, Andrew. Longe da Árvore: Pais, filhos e a busca da identidade. Trad. de Donaldson M. Garschagen, Luiz A. de Araújo e Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 2013 (capítulo 2: Surdos)

Estas e outras referências bibliográficas estão reunidas nesta postagem: 






Deficiência visual


Dúvida: "Por que alguns políticos e outras páginas do Facebook passaram a escrever a descrição das imagens em suas postagens se os cegos não enxergam?"
Resposta: Os deficientes visuais estudam, trabalham, têm e-mail e usam redes sociais como qualquer outra pessoa. O computador utilizado por eles é adaptado e possui um aplicativo que lê os textos em voz alta. O problema é que este não consegue "ler" imagens, gráficos e emoticons. Então, quando eles estão usando o Facebook, por exemplo, ouvem o que está escrito nas postagens das páginas seguidas por eles. Se houver uma foto ou uma programação de evento em forma de imagem, o aplicativo não consegue "ler". Com isso, os cegos acabam perdendo muitas informações importantes. Ao contrário, se o responsável pelas postagens descrever, detalhadamente, o que há na foto ou no anúncio/cartaz/folder do evento divulgado na página, os deficientes visuais estarão informados.


Mito: "Os cegos são pessoas muito infelizes."
Resposta: De forma alguma! Não enxergar jamais pode ser interpretado como a maior desgraça a acontecer a alguém. Em geral, os cegos são como quaisquer outras pessoas, têm uma vida normal e produtiva. A felicidade, assim como a falta dela, é algo muito subjetivo e independe da pessoa ter deficiências.


Mito: "Cegos só podem ir a restaurantes acompanhados ou então, precisam que o garçom leia o cardápio em voz alta."
Resposta: Depende da cidade em que a pessoa cega está. Em São Paulo, por exemplo, há uma lei (Lei 12.363/97 regulamentada pelo Decreto 36.999/97que obriga todos os restaurantes a ter cardápios em braille. Consulte a legislação vigente em seu município.


Mito: "Os audiolivros e as transcrições de obras para o braille estão sujeitas à lei de direitos autorais."
Resposta: Não! Segundo o artigo 46 da Lei nº 9610/98, a reprodução de obras literárias, artísticas e científicas é livre para uso exclusivo dos deficientes visuais, desde que seja feita em braille ou em formato de audiolivro, sem fins comerciais.

Sobre este e outros temas, veja as indicações bibliográficas (livros, teses, dissertações e artigos acadêmicos) que selecionei e reuni nesta postagem:






Deficiência física


Mito: "Cadeirantes não podem ter filhos."
Resposta: Sim, eles podem! Mesmo que a pessoa tenha perdido os movimentos, tem vida sexual e pode gerar filhos.

Sobre este e outros temas, veja as indicações bibliográficas (livros, teses, dissertações e artigos acadêmicos) que selecionei e reuni nesta postagem:






Paralisia Cerebral


Mito: "Se você não se comportar, vai ficar como aquele ali!" (apontando para uma pessoa com paralisia cerebral)
Resposta: Você está ensinando algo totalmente errado a essa criança, que crescerá ignorante, sem respeito por ninguém e sem saber conviver em sociedade. Paralisia cerebral não é castigo (deficiência nenhuma o é) e a pessoa que a tem e seus responsáveis não são obrigados a ouvir isso. Ademais, se você quer ensinar algo bom a uma criança, comece por não apontar para ninguém na rua.

Sobre este e outros temas, veja as indicações bibliográficas (livros, teses, dissertações e artigos acadêmicos) que selecionei e reuni nesta postagem:






Deficiências em geral


Mito: "Pessoas com deficiência não podem dirigir."
Resposta: Depende de cada caso. Para que a pessoa com deficiência possa tirar carteira de habilitação, deve procurar, no Detran de seu Estado, uma clínica credenciada autorizada a realizar os exames médicos e psicotécnicos especiais para pessoas com deficiência.

Sobre este e outros temas, veja as indicações bibliográficas (livros, teses, dissertações e artigos acadêmicos) que selecionei e reuni nesta postagem:






Carmem Toledo
Criadora e responsável pelo projeto Voz Neurodiversa (http://vozneurodiversa.blogspot.com)
Blog pessoal: http://culturofagicamente.blogspot.com






* Consulte também as seguintes postagens e conheça algumas importantes fontes de informação para a derrubada de mitos:


Autismo:

Altas Habilidades/Superdotação:

Dupla Excepcionalidade (meu caso específico, que envolve Autismo Nível I e Altas Habilidades/Superdotação):


Deficiências em geral, outras condições, inclusão etc.:


Outras fontes de pesquisas:
http://vozneurodiversa.blogspot.com/search/label/Fontes%20de%20pesquisa

Lista de profissionais especializados: 

Instituições e núcleos de apoio 
(para ter acesso à lista de seu Estado, selecione em um dos menus laterais: "Instituições por Estado"): 





Autoria

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