terça-feira, 31 de maio de 2016

"Um mundo com mais amor e esperança", por Cuca Pimentel


Com grande satisfação, inauguramos as seções de artigos escritos por convidados e diversidade de gênero, com um texto de uma amiga que minha mãe, Irene, e eu não vemos há 13 anos: Cuca Pimentel. Essa satisfação é ainda maior por conhecermos seu caráter, a ética presente em todas as suas atitudes e sua sinceridade. 
Cuca escreveu o breve texto a seguir em seu perfil no Facebook, em um momento de desabafo. Nesta postagem, deixei um comentário que dizia que seu coração não é "besta" por ter esperança. Esse tão sonhado "mundo melhor" está sendo construído aos poucos, peça por peça, por pessoas como ela, que têm a verdadeira força. Acontece que os verdadeiros "bestas", que se deixam corroer pelo ódio, tentam parecer numerosos através do "barulho". E quem muito tenta chamar atenção acaba expondo suas próprias fragilidades. Quem se sente seguro quanto a seus valores, muitas vezes, sente-se frágil e solitário em suas esperanças, pensando-se tolo por desejar um mundo em que as pessoas se respeitem, onde não haja ódio, inveja ou competições irracionais, tampouco disputas insanas entre grupos formados por ideias pouquíssimo estudadas (e muito menos questionadas), julgamentos baseados em raça, cor, gênero, características físicas, neuropsiquiátricas, deficiências e até mesmo comportamentos que não condizem com o que se espera da maioria. 
Os que odeiam são minoria, Cuca. Eles parecem numerosos, porque gritam muito. Quem realmente acredita em seus valores não precisa gritar para convencer ninguém, muito menos formar grupos para se sentir mais corajoso. E quem muito grita acaba rouco.

Carmem Toledo
Super Specialis


Imagem: Arquivo pessoal de Cuca Pimentel
Descrição da imagem (Acessibilidade): Cuca está deitada ao lado de sua cadelinha, Tarsila. Cuca tem os cabelos castanhos, presos em um coque. Ela possui tatuagens nos braços, sendo que uma delas representa Tarsila, que é da raça Dachshund.


"Sempre apreciei a beleza nas pequenas coisas. O jeito como as flores desabrocham nas árvores, o jeito como a luz passa pelas frestas criando padrões, um sorriso de uma criança, uma risada gostosa, um abraço apertado, o cheirinho gostoso do pijama da mamãe , o olhar da minha Tarsila. 
Mas as pessoas teimam em me lembrar constantemente que o mundo está bem feio e o quanto as pessoas estão egoístas e 'ensimesmadas'. Seja com o estupro de uma menina por 33 homens, seja os comentários ofensivos e sem coerência alguma a respeito do caso, seja conseguindo enxergar o coração de uma pessoa e não gostar de ver qual é a verdadeira índole e caráter do ser. Tudo me deixa muito triste e decepcionada ao ver os rumos que esse mundo vem tomando e como a escala de valores das pessoas vem mudando assustadoramente para pior. Pessoas com egos IMENSOS, que não pensam duas vezes em violentar, em estuprar, em humilhar, em passar por cima, em se dar bem às custas dos outros. E cara, isso me dá raiva e muitas vezes me pego com o coração cheio de ódio. 
Mas daí olho pela janela e vejo o sol, um sorriso, recebo um abraço apertado, uma palavra de carinho. E esse ódio some. Some porque meu amor pela vida e pelo próximo é maior do que qualquer ato horroroso desses que citei. Porque não sou melhor que ninguém, mas posso fazer do mundo um lugar melhor. Pelo menos no pequeno mundo que me cerca eu tenho o coração tranquilo e que ainda é besta o suficiente pra acreditar que ainda há esperança nessa humanidade.
Por um mundo onde prevaleça o bom caráter, a esperança e o amor. Só isso que eu peço..."

Cuca Pimentel
Fotógrafa e empresária



Autoria

"Voz Neurodiversa" (vozneurodiversa.blogspot.com) é de autoria de Carmem Toledo. Está proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui publicado, inclusive dos disponibilizados através de links aqui presentes. A mesma observação se estende a todos os blogs e páginas da autora ("Culturofagia", "O Caminhante Solitário", "Sophia... Ieri, Oggi, Domani") e toda e qualquer criação, seja em forma de texto ou ilustração, por ela assinada.